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Arte Negra Parede Branca

Centro Histórico-Cultural Santa Casa, 17 de maio de 2018.

Curadoria: Ana Albani de Carvalho

Registro fotográfico: Eduardo Figueiredo e Jader Debem

Letras negras sobre folha branca

 

Preto no branco. Na parede o risco. A marca na pele. Na folha de papel, a linha também sangra. Vermelho. Pode ser também. Arte sonora. Silêncio. Palavras contadas. “Posso falar agora? Ainda não?” Arte exige atenção e envolvimento. Artista, músico, professor. O olho na rua, o exercício da escuta e do gritar também. Multi-meios. Multimídia. A arte de Estevão da Fontoura trabalha com as fronteiras da arte. Expande, tensiona, transgride aquilo que entendemos como arte. Arte que não gosta de molduras, embora possa jogar com elas. O que pode fazer a arte em tempos sombrios? Acender o fogo? Existe arte que incomoda e provoca. Existe arte mais poderosa, aquela que perturba a lógica de funcionamento do sistema. Este é o caminho que Estevão trilha, sabendo que a perturbação pode ser sutil, como sombra na parede escura, agressiva como as sirenes das viaturas ou ostensiva como os helicópteros que rondam o céu de nossas cidades em dias de convulsão.

Estevão da Fontoura conta letras e palavras, mas não mede gestos. Na esteira das provocações dadaístas e da virada linguística disparada pela arte conceitual dos anos 60 e 70, conectado com o debate contemporâneo da cultura hacker, articulando elementos da alta e baixa tecnologia, consciente da tradição concretista alinhada à Poesia Visual, os trabalhos apresentados em Arte Negra Parede Branca apostam na conexão entre arte e política pelo viés crítico da ironia e do humor. Se a arte trabalha com os afetos, pode e deve afetar nossa forma de ver o mundo, desalojando posições estabelecidas no tabuleiro das relações de poder e dos discursos que legitimam preconceitos de raça, gênero ou classe social. Arte pode ser arte e pode ser política. Sempre
foi, podemos ver agora.


Ana Albani de Carvalho

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